sexta-feira, 11 de março de 2011

A Inocência de Alice

No âmbito da disciplina de Clássicos da Literatura estou a estudar a fundo as obras de Lewis Carroll sobre a personagem Alice. As suas histórias desdobram-se em dois livros, o mais conhecido Alice no País das Maravilhas e o menos conhecido, As Aventuras de Alice do Outro Lado do Espelho. Lendo e relendo várias vezes os livros cheguei a certas conclusões presentes neste ensaio sobre a inocência de Alice, enfatizando-me no primeiro livro. 
            Uma das características da personagem principal, Alice, é a sua inocência para com o mundo em seu torno. Alice enfrenta as coisas extraordinárias do País das Maravilhas com uma serenidade própria de uma menina de 7 anos. Ela não sabe que as coisas que vê não existem, ela não sabe que o nosso mundo é governado por uma proximidade à ordem enquanto o  País das Maravilhas é governado pela loucura. Assim, ela corre atrás de um Coelho Branco que perdeu as luvas, assim, ela fala com uma Lagarta que fuma de uma Narguilha e bebe um chá com uma Lebre de Março, um Arganaz e um Chapeleiro Louco, como se fosse algo que fizesse todos os dias, como se fossem procedimentos regulares do seu dia-a-dia.
            Como explicar esta inocência? Suponho que até uma menina de 7 anos saiba que os Coelhos não usam luvas (especialmente naquela altura em que não existia televisão), que as Lagartas não fumam e que as Lebres e os Arganazes não bebem chá. A minha primeira aposta seria: o Sonho. Alice sonhou tudo e isso prova-se com o seu acordar ao fim do livro. Porém, há marcas de sonho em todo o livro. Eu não duvido que toda a gente tenha sonhos diferentes, uns sonham a cores e outros a preto e branco e uns sonham com a sua vida e outros com a dos outros e uns sonham com o futuro e outros com o passado. Porém, Alice sonha com o absurdo e à medida que sonha com o absurdo, as personagens criam reminiscências fáceis de identificar (a meu ver).
            Quem é que nunca sonhou com uma frase que lhe tenham dito e, por obra e graça do subconsciente se voltou a manifestar no sonho? Pois Alice, fala com um Rato que lhe diz que “a coisa mais secante que conhece” é a história de Guilherme, o Conquistador. Quem nunca sonhou com uma frase que lhe tenha sido dita na aula de história, atire a primeira pedra. O Rato conta a história de Guilherme, “cuja causa era abonada pelo papa, não tardou a submeter os ingleses, que careciam de líderes, e ultimamente estavam muito acostumados à usurpação e à conquista. Edwin e Morcar, os duques de Mércia e Nortumbria (...) e mesmo Stigand, o arcebispo da Cantuária, achou isso inoportuno...” diz o Rato, interrompido por um Pato que o questiona.
            Outra marca do sonho seria o crescer e decrescer involuntário de Alice... quem é que nunca se sentiu cair enquanto sonhava? Cientistas dizem que essas quedas são manifestações do nosso crescimento. Assim, a cada vez que Alice crescia abruptamente ou decrescia, também abruptamente, simbolizava o seu crescimento real... como se a cada pulo fosse uma queda daquelas pequeninas que sentimos quando dormimos.
            Finalmente, a nossa queda para o absurdo enquanto sonhamos, acontecem-nos coisas impossíveis com a maior das naturalidades, como daquela vez em que sonhei que uma baleia aparecia no ginásio durante uma aula de educação física e acordei quando vi o letreiro “GAME OVER” e pensei que toda a minha turma tinha “perdido” (vá-se lá saber porquê).
            Assim, a explicação mais plausível para a naturalidade de Alice face às loucuras a que era submetida está explicada no próprio livro: Alice sonhava à beira do lago enquanto a irmã lia um livro sem diálogos nem imagens. 

Tiago Clariano | 12.º LH1

2 comentários:

Paula Vidigal disse...

Que boa escolha, eu adoro a magia de Lewis Carroll, uma vez encontrei um trabalho sobre a "psicologia " do livro ,mas não me recordo agora como se intitula.
Boa escolha, Tiago!

Tiago Filipe disse...

só hoje consegui ver, também acho um óptimo livro e dá muito que falar apesar da simplicidade aparente, há muita filosofia e lógica por detrás de cada loucura de cada capítulo!

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