quinta-feira, 5 de outubro de 2023

Professor Bibliotecário da E.S. Severim de Faria

 

João Simas, 

Professor Bibliotecário da E.S. Severim de Faria

 João Simas, Professor Bibliotecário da ES Severim de Faria (até 2023), reformou-se e, dia 12 de julho 2023, decorreu um almoço de homenagem com antigos e atuais colegas, professores e assistentes da Biblioteca. Foi, igualmente, homenageada Conceição Orvalho, assistente da Biblioteca. Aqui fica o registo da homenagem e alguns registos de imagem.

    
     
                           
     


PARA O COLEGA JOÃO SIMAS

          Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro - há quem resuma assim a missão do homem na Terra. Preservação da natureza, da espécie e da cultura - três vetores essenciais para os quais o João contribuiu de forma notável.

            De  Sousel a Estremoz e de Arraiolos ao Liceu de Évora, de Mértola a Vila Real de S. António , de Évora a Lisboa, passando pelo Cano; de "O Rio e os Homens" do Guadiana às Tertúlias Radiofónicas Eborenses, até chegar e permanecer na "Rua de Alconxel", o seu percurso foi sempre pautado por viagens inspiradoras, criativas e interventivas.

            Há pessoas que acrescentam, que enriquecem, que iluminam o mundo com o seu saber, a sua cultura  e a sua empatia.

            Há pessoas que , quando partem, deixam boas sementes para  os que ficam  continuarem a  cultivar e a fazer florescer.

            Há pessoas que são bibliotecas itinerantes, que partilham sonhos e saberes.

            Há pessoas que, quando partem, nunca se ausentam.

            Assim é o colega João Simas, que ficará sempre connosco!   

            Os colegas amigos    (...)


DO COLEGA JOÃO SIMAS

Ontem, dia 12 de julho, estive num almoço com colegas da Biblioteca que trabalharam comigo ao longo de anos. Também me escreveram um texto que reproduzo e uma recordação viva (um bonsai). Respondi-lhes com um agradecimento.

"Colegas e amigos (as)

“É bonita a festa pá”. Falo do presente, porque o conhecimento do passado é também o meu ofício, mas os momentos que se vivem são únicos, para serem vividos.

Agradeço a lembrança e a vivência deste dia, assim como a oferta do ulmeiro e o texto, até porque são referências de coisas que aprecio: viver a vida, conviver com amigos, sentir as plantas crescer, por vezes de forma imprevisível (e ainda bem!), refletir, escrever como me apetecer, com algum sentido, mas sempre com mensagem para alguém, para que o mundo seja um pouco melhor. E os “banquetes” são sempre bem vindos. Não seguindo Platão, no Simpósio (banquete), sou platónico nessa forma de estar, epicurista também, nesse devir de ideias e degustações.

Tive alguma sorte na vida pois ainda conheci um mundo rural, sem luxos mas onde era possível andar nos campos, tomar banhos nas ribeiras, provar medronhos nas serras alentejanas, conhecer gente anónima de pouca ou nenhuma escolaridade mas com sabedorias ancestrais, gente combativa, apesar dos tempos, num país fechado e censurado, em que as crianças e jovens eram criadas para “servir a Pátria”, nas Áfricas, de bico calado, onde as bibliotecas itinerantes traziam a literatura e livros de conhecimentos vários que depois comentávamos, em surdina. E agradeço também aos meus pais que dispunham de livros e estimulavam a leitura e a escrita e a curiosidade. A minha mãe recitava-me poesias de Camões e outros, que ainda sei de cor. Ensinaram-me também o diálogo com os outros, e a saber ver nos outros mais do que aquilo que aparentam.

O 25 de Abril apanhou-me no final do liceu e nos tempos seguintes vivi intensamente em Arraiolos onde acompanhei as mudanças, em Lisboa onde todos os dias havia novidades, tanto na Faculdade de Letras, como numa residência de estudantes, onde a maioria era de outros cursos, em que discutíamos de tudo (hoje ainda nos encontramos). A rua, os cafés onde se liam jornais, onde se falava e escrevia no meio de fumaradas, outros locais inundados de gente, foram também grandes escolas e referências para a vida, ligando a teoria à prática, participando, tentar sempre ir mais além. Conheci um novo mundo mais cosmopolita, mais aberto e um povo que respirava e aspirava. E a amizade, mesmo com discussões, por vezes exaltadas, preserva-se, continua.

Também tive sorte com a família, com quem me acompanhou, com filhos e netas, a quem espero deixar alguma coisa, sem modelos, porque cada um é o que é e o que constrói.

Nos 42 anos e 3 meses que estive no ensino, em diversas escolas e em diversas funções e ciclos de ensino, a Biblioteca foi para mim, não apenas uma profissão mas uma escolha e um modo de vida que quase confundia com a minha casa. Na Escola Secundária Severim de Faria estive 23 anos seguidos, também no Conselho Pedagógico e sempre com alunos. Procurei sempre proporcionar um ambiente de liberdade, de ideias e de expressão, sem grandes dirigismos, promovendo os grupos, sem esquecer nunca os indivíduos, não apenas os bons alunos, como os aparentemente desinteressados, os diferentes da norma. Também, sem desistir dos clássicos, da literatura, ciências e artes, transigindo pouco com as banalidades, que apenas entretêm para logo ficar esquecidas. Prefiro a provocação e o espanto e cada um que enfrente a vida.. Entendo que o mundo deve ser diversificado, que se pode escolher diferentes percursos, com entusiasmo, também com angústias e incertezas que se transformam em prazer, mesmo que os objetivos mensuráveis ou não, não se cumpram na totalidade, mesmo que a Utopia não seja alcançada.

Nada se fez sozinho. Nada de modelos rígidos, nada de modas apregoadas num dia, esquecidas no outro. Os projetos em que a Biblioteca participou, foram sempre feitos com conjuntos de pessoas diversificadas, professores, funcionárias, alunos, gente convidada que nos contou as suas experiências ao logo da vida, as suas vivências, os livros que escreveram. E sempre que possível associando a leitura, bem degustada com a escrita que nos liberta. Serviço público e combate pela cidadania.

Convivi e trabalhei na Biblioteca, com pessoas de várias formações, cada uma com a sua personalidade e a sua história de vida. Do respeito pela personalidade de cada um, do diálogo e da tolerância surgem novas ideias e práticas. Para quê perder tempo com pequenos acidentes de percurso, quando há mais coisas que nos unem do que nos separam, quando o tempo bem usufruído é um bem precioso. Além disso, aprecio o trabalho discreto, o que parece simples quando feito, o trabalho técnico demorado mas que permite o acesso à informação.

Tal como mudei várias vezes de terra, agora mudo também de vida, fazendo coisas que já fazia, coisas que gostava e gosto, outras diferentes, algumas com mais vagar, palavra antiga que hoje está (e bem) novamente na moda e, mesmo que não estivesse, é preciso tempo para pensar e agir.

Agradeço a todos a vossa presença e também daqueles que não puderam estar.

Ando por aí. Vamo-nos encontrando.

Um abraço"

 

    
Entrega dos Prémios Katharsis 2023

       
Comemoração do 25 de Abril de 2023
Conversas e Testemunhos, com Bárbara e Joaquim Judas e com Aurora Rodrigues




PARA A ASSISTENTE DE BIBLIOTEA:

CONCEIÇÃO ORVALHO

Quando o orvalho

dos lírios escorreu

nasceu a cor roxa

e o sofrimento escondeu.

 

Foi transformado

na palavra escrita

que fez renascer

a esperança infinita.

 

Do campo para a cidade

das raízes para a civilização

manteve sempre a sua pureza


e grandeza de coração.

Cidália Gil                                         

A que Conceição  Orvalho respondeu, de improviso (...)



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