domingo, 15 de março de 2009

Visita à Regaleira


Visita à Regaleira

Por detrás de tão belas paisagens, o sol vai nascendo timidamente, a leste da Fonte da Abundância. Pela calada da manhã tudo se ilumina. Desde as mais altas torres da quinta, entre os magníficos jardins, às mais detalhadas estátuas de deuses. Também o guardião da família se ergue por entre as sombras das trevas, derrotadas por aquela altura. O palácio agora meio iluminado pelos fracos raios de sol… É esta a visão diária de quem visita a Regaleira, um dos mais belos locais construídos ao longo de Portugal.
Sintra por si é um vasto património, foi nela que Eça de Queirós montou o seu cenário para Os Maias, e Fernando Pessoa se inspirou para alguns dos seus poemas em A Mensagem, assim como outros escritores lusófonos. Mas perto da Quinta do Relógio, do seu lado oposto, encontramos o céu na Terra, um local que nos encanta e nos convida e um mundo de fantasia, tirado de um filme.
A Quinta da Regaleira é sem dúvida alguma, um local de reflexão e interacção com o ambiente. António Augusto Carvalho de Monteiro projectou nela todos os seus sonhos, gostos, e experiências de outras culturas, que conheceu durante as suas viagens.
Toda a Quinta foi construída pelo arquitecto-cenógrafo italiano, Luigi Manini.
“Apressa-te lentamente…” esta foi uma das inscrições que mais me tocou em toda a vista, contida no palácio, capela e construções antropológicas ao longo dos jardins.
No portal dos guardiães temos uma vista do pensamento mitológico juntamente com as crenças do próprio Carvalho Monteiro.
Toda a construção tem indícios de maçonaria e símbolos templários, a cruz templária no fundo do poço iniciático e a cruz da Ordem de Cristo no pavimento da Capela, testemunham, precisamente a influência do templarismo em Carvalho Monteiro.
O famoso Poço iniciático, que de quinze em quinze degraus faz com que se desçam nove patamares desta imensa galeria subterrânea, construída em espiral, leva-nos a uma ligação de magníficas grutas cruzadas. Ao fundo da sua escuridão podemos encontrar um magnífico lago com uma passagem de pedras polidas e uma pequena ponte de madeira que passa por cima do respectivo lago.
O deslumbrante palácio ergue-se no horizonte, a antiga casa da família Carvalho Monteiro é uma magnífica obra, assim como toda a Quinta.
Ao entrarmos, uma sala espaçosa, a que Carvalho Monteiro deu o nome de Sala da Renascença, e era a antiga sala de estar da família, cuja decoração recupera referências do renascimento italiano e a sua iconografia celebra a união entre Carvalho Monteiro e a sua esposa, Perpétua Augusta. Avançamos e encontramos o Hall de entrada, um estreito corredor, onde outrora figurava a imponente escadaria em madeira, que dava acesso aos pisos superiores. Este hall dá-nos acesso à chamada sala de caça, uma sala de jantar dominada pela monumental lareira rematada pela escultura de Monteiro. Neste fogão de sala, sobressai o tema da caça, de excepcional execução em cantaria, faz transparecer o ciclo da vida, desde o mosaico às mísulas da abóbada.
Uma das muitas salas também existentes no primeiro piso é a sala dos reis. Antiga sala de bilhar, nela estão representados 20 reis e 4 rainhas da monarquia portuguesa e os escudos da cidade de Braga, Porto, Coimbra e Lisboa. Sobre a lareira encontrava-se o brasão de Carvalho Monteiro, onde hoje figura o brasão de Sintra.
Os pisos subterrâneos(-1 e -2) estavam destinados aos serviços, como cozinha, despensa e copa, engomadoria, camaratas e refeitório.
No primeiro piso encontravam-se os quartos e espaços reservados à família, como as salas de estudo e dos brinquedos e a sala Lusíada, o espaço de estar integrado nos aposentos privados do casal.
Ao subirmos um piso, conseguimos ver com destaque a volumetria da sala octogonal que sugere a Charola do Convento de Cristo em Tomar. Para além desta sala e do escritório, o segundo piso destinava-se a alguns quartos e a arrumos.
Por sua vez o piso 3 era uma pequena torre neomedieval no ângulo Norte que incluía espaços reservados ao proprietário, como o escritório, com ligação directa ao seu laboratório e aos terraços.
No cimo desta esplendorosa obra prima podemos ver uma torrinha que desfruta de uma panorâmica surpreendente sobre a serra e o oceano, o miradouro é rematado com uma esfera armilar e um catavento com a cruz da Ordem de Cristo.
Por entre tantas maravilhas contidas na Regaleira, passando pela pequena, mas encantadora Capela, pela Gruta de Leda e pelos seus majestosos jardins, que fazem desta Quinta, o paraíso artístico e espiritual em Portugal.



Susana Barradas
11ºCT1

1 comentário:

Anónimo disse...

Felicito a Susana pelo interesse com que participou na visita de estudo a Sintra.
Com o seu bloco de apontamentos sempre à mão, registou informações e foi colhendo impressões, qual repórter empenhado...
Uma digna representante dos estudiosos de Eça de Queirós.
Professora Paula Ferrão.

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