segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Aventura do literário




Na turma LH1 do 10º ano, doze alunos iniciaram este ano lectivo a aventura do literário. Fazem-no com entusiasmo, na disciplina (opcional) de Literatura Portuguesa. Alguns ainda timidamente, outros já com mais confiança, discutem valores estéticos, questões ligadas à subjectividade, à conotação…Saboreiam as palavras, tacteiam-nas, experimentam-nas.
A aula é, simultaneamente, espaço de partilha de saberes e de aquisição de competências enquanto leitor e aprendiz da escrita. Os alunos vão ganhando asas para voos que se querem ousados, mas também responsáveis. Um terço dos tempos lectivos é dedicado ao P.I.L. (Projecto Individual de Leitura) no qual o estudante trabalha um conjunto de obras de prosa, poesia e drama, das quais dará conta ao professor e aos colegas no Fórum de Leitores mensal e também através de um Portfolio, que irá enriquecendo ao longo do ano lectivo.
Nas primeiras aulas foi feita a sensibilização para as diferenças entre o Texto Literário e o Não Literário, com vista a aclarar a especificidade do primeiro.
Depois de termos exemplificado as respectivas diferenças em dois textos com o mesmo referente (Trás-os-Montes), confrontando um artigo de uma enciclopédia com um texto de Miguel Torga retirado da obra Portugal, que a seguir se transcrevem, foi solicitado aos alunos que escolhessem uma província do nosso país e que criassem um texto não literário e outro literário sobre a mesma. Seguem-se três exemplos dos trabalhos apresentados. Parabéns aos alunos.
Professora Ana Paula Ferrão




TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO (Texto Não Literário)
         Província que ocupa, com o Minho, o extremo Norte do País e está compreendida entre 40º 55’ e 41º 59’ de Lat N e 1º 3’ e 2º 58’ de Long O de Lisboa. Para uma área de 11.832 km2, tinha 589 884 hab., segundo o censo de 15-XII-1950. Compõe-se de 31 conc., com 640 freg.
            As condições naturais do território a norte do Douro determinaram consequências especiais do ponto de vista humano. Os povos viviam separados da Meseta central pelo curso do Douro, fosso difícil de transpor, ao passo que da banda do mar a barreira de montanhas alterosas – Marão, Barroso, Padrela –, alinhadas de Norte a Sul, estorvava a marcha, tanto para o Ocidente como para o Oriente, do mesmo modo embaraçada por alinhamentos de serranias separadas por vales fundos, de custoso acesso. Por tal motivo, através dos tempos esses povoados viveram isolados, mal contactando com o exterior, mantidos com os curtos recursos da terra, bravia na forma e constituição, aspérrima no clima. Reportando-se ao viver transmontano em época proto-histórica, diz Ezequiel de Campos: «As terras para lá do Marão, estiveram quase ensimesmadas, com suas vilas e aldeias de casas amontoadas, os campos e as vinhas nos vales e nas encostas de em torno: e o resto a selva, nos maninhos largos até à povoação imediata». Terra de pequenas povoações dispersas, e de poucos castelos medievais, como que a dispensar-se de protecção artificial, por se ver defendida pela própria natureza, Trás-os-Montes ficou fora de intensa influência directa do Romano, porque o Douro, de navegação e passagem difíceis, lhe estorvou o acesso.
in volume 32 da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira



UM REINO MARAVILHOSO – TRÁS-OS-MONTES (Texto Literário)
         Vou falar-lhes dum Reino Maravilhoso.
            Embora haja muita gente que diz que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração, depois, não hesite.
            O que agora vou descrever, meu e de todos os que queiram merecê-lo, não só existe, como é dos mais belos que um ser humano pode imaginar. Senão reparem:
            Fica ele no alto de Portugal, como os ninhos ficam no alto das árvores para que a distância os torne mais impossíveis e apetecidos. Quem o namora cá de baixo, se realmente é rapaz e gosta de ninhos, depois de trepar e atingir a crista do sonho contempla a própria bem-aventurança.
            Vê-se primeiro um mar de pedra. Vagas e vagas sideradas, hirtas e hostis, contidas na sua força desmedida pela mão inexorável dum Deus genesíaco. Tudo parado e mudo. Apenas se move e se faz ouvir o coração no peito, inquieto, a anunciar o começo duma grande hora. De repente rasga a crosta do silêncio uma voz atroadora:
            ─ Para cá do Marão, mandam os que cá estão!...
            Sente-se um calafrio. A vista alarga-se de ânsia e de assombro. Que penedo falou? Que terror respeitoso se apodera de nós?
            Mas de nada vale interrogar o grande oceano megalítico, porque o nume invisível ordena:
            ─ Entre!
            A gente entra e já está no Reino Maravilhoso.
Miguel Torga, in Portugal






Trás-os-Montes (Não Literário)
Situado no Norte de Portugal, é constituído por vários concelhos. As paisagens são, maioritariamente, culturas de vinhas nas encostas montanhosas. Não são visíveis planícies, sendo o território constituído apenas por encostas escarpadas e vales que acabam nas margens do rio Douro. Os Invernos são frios e chuvosos, chegando a cair neve. Pelo contrário, os Verões são quentes e secos de dia, frios e húmidos de noite.

Trás-os-Montes: vistas ímpares (Literário)
Quem viaje pelo Norte do país, será surpreendido com as magníficas e marcantes paisagens, que nos acolhem num mundo próprio e fechado entre montanhas e vales. Tudo tão verde, como se mil pintores tivessem pincelado a zona, transformando-a em lindas vistas, espelhadas pelo Douro cristalino.
E tão bem que somos recebidos pela população não indiferente à nossa presença. Seremos como familiares que há muito não vêem. Olham-nos curiosamente. Tantas histórias trocadas num ambiente tão bom, tão agradável, tão quente…
Sem nos darmos conta, Trás-os-Montes já nos levou metade do coração.
Nº 17, Joana Cidades




Alentejo (Não Literário)
Província situada a sul do Tejo que compreende, integralmente, os distritos de Portalegre, Évora e Beja.

O Alentejo (Literário)
Quente, seco, campestre… Terra-mãe das candeias e cantares, que nos transmitem uma imagem típica e harmoniosa da vida no Sul do país.
            Quantas memórias guardo da saudosa comida da avó… Do avô sentado à sombra, sempre com aquele palito na boca…“ – Foi para deixar o tabaco.” – dizia ele. Das anedotas, das cantigas que cantava e partilhava comigo! Desse seu, meu Alentejo.
            E de tantos outros que um dia O cantaram e amaram, que perderam, que ganharam… que viveram e que morreram!
            Gente simples, rude, amiga, trabalhadora… capaz de rir… de si!
            Alentejo onde nasci e cresci… onde estou e ficarei… até quando? Não sei… Mas sei que, dê as voltas que der, e aquelas que o destino quiser, comigo levarei as tuas memórias, a tua história…
            E com orgulho e saudade de ti falarei… Alentejo.
Nº 15, Inês Catrapona






Algarve (Não Literário)
O Algarve é a província mais a sul de Portugal e é onde grande parte dos portugueses passa as suas férias.

Algarve (Literário)
No fundo da Europa, o Algarve é o vizinho mais chegado a África: é uma porta para dois mundos, um paraíso para alguém.
Nº 13, Francisco Godinho

2 comentários:

Joana C disse...

Aquele é o meu texto sobre Trás os Montes! Enfim, penso que estão todos muito bem. A nossa turma só tem talentos :) Ainda bem que podemos mostrar o que fazemos na aula Literatura Portuguesa.

Anónimo disse...

Olá!
Penso que deva ser um projecto realmente interessante :)

Fiquei com vontade de voltar para a Severim. :D

Sem dúvida uma boa escola e com professores muito bons. Desejo o sucesso da escola e dos seus alunos.

Daniela Parra

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